O wushu, uma arte marcial chinesa milenar, tem encantado pessoas ao redor do mundo com sua beleza, força e profundidade. Além de ser um esporte competitivo e uma forma de autodefesa, abrange uma ampla gama de conceitos que transcendem o aspecto físico. Neste artigo, mergulharemos nos fundamentos, explorando sua história, estilos tradicionais e modernos, técnicas, treinamento físico e mental, filosofia, competições, benefícios e muito mais. Prepare-se para embarcar em uma jornada fascinante pela tradição e cultura desta arte marcial chinesa.
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ToggleOrigem e História do Wushu
O wushu possui raízes antigas na China antiga, remontando a milhares de anos. Sua história está intrinsecamente ligada à evolução da sociedade chinesa e sua busca por autodefesa, saúde e desenvolvimento espiritual. Inicialmente, surgiu como uma forma de combate, sendo praticado por guerreiros e soldados para proteger suas terras e comunidades.
Ao longo dos séculos, passou por transformações significativas, influenciado por diferentes dinastias, mestres e correntes filosóficas. A filosofia do Taoísmo e do Confucionismo desempenhou um papel importante na formação do wushu, com ênfase na busca da harmonia entre mente, corpo e espírito.
A introdução do Wushu no Brasil
Marrera (2003) cita que o Wushu foi introduzido no Brasil na década de 60, devido à imigração dos primeiros mestres chineses de Wushu para o país. A falta de domínio do idioma foi à primeira dificuldade que estes mestres encontraram ao iniciar o ensino do Wushu no Brasil. Inicialmente, logo após um difícil processo de adaptação, os mesmos passaram a ministrar aulas particulares em suas próprias casas, algum tempo depois passaram a ministrar suas aulas em centros culturais e finalmente em suas próprias escolas.
Os primeiros mestres que chegaram no Brasil e iniciaram seus trabalhos com Wushu foram os mestres Wong Sun Keung, Chiu Ping Lok , Li Wing Kay e Li Hon Kay, menciona Marrera (2003).
Etimologia do termo Wushu
O wushu é uma arte marcial que surgiu a partir da necessidade de sobrevivência humana quando o homem passou a utilizar o seu corpo e armas artesanais para sobreviver ao ataque de animais e tribos rivais. As rotinas de Wushu se desenvolveram de modo que o homem passou a utilizar o corpo como arma, tanto para ataque como para defesa em um desenvolvimento corporal que já podia ser chamado de técnica, e que já se utilizavam de golpes como: chutes, socos e projeções, menciona Queirós (1992).
Segundo Imamura (1994, p.34, 35), o termo que os chineses utilizam para rotular sua arte marcial é wushu. O ideograma “wu” é composto por dois caracteres “chy e ge”, ge representa uma das armas mais utilizadas na China antiga: o machado. Chy significa parar ou deter, sua origem advém de uma pegada nítida estampada em um caco de jarro de aproximadamente 3.200 anos, presume-se que esta pegada seja de um homem que estava parado. Para os chineses o wushu significa a ação contra um ataque ou a defesa contra a violência.
Mundialmente o wushu também é conhecido como kung fu, mas para Roig (1990?) este termo vem afastando a arte marcial chinesa da sua verdadeira origem, pois muitas gerações vêm modificando certos conceitos referentes à mesma.
Sobre a perca do verdadeiro conceito de wushu, Roig afirma que:
Este seria um caso de interpretações incorretas de algumas províncias do sul da China, que acabaram por denominar o wushu como Kung Fu. Quando este último, não é uma terminologia exclusiva de artes marciais, sendo o mesmo aplicado a qualquer tipo de trabalho bem realizado. (ROIG, 1990?, p. 12, tradução nossa).
Segundo Yu (2003), existem muitos praticantes de artes marciais chinesas e apreciadores da mesma, que ainda não compreenderam o verdadeiro significado do termo wushu. A autora citada ainda afirma que, o wushu é um termo utilizado pelo povo chinês para designar “Artes Marciais”.
Yu (2003), afirma que o povo ocidental se familiarizou com o termo kung fu, que se traduz apenas como habilidade.
Estilos Tradicionais
O wushu tradicional é composto por uma variedade de estilos, cada um com suas próprias características distintivas. Alguns dos estilos mais conhecidos incluem o Tai Chi Chuan, famoso por seus movimentos fluidos e lentos, que enfatizam a conexão interna e a energia vital; o Shaolin Quan, desenvolvido pelos monges Shaolin, conhecido por suas posturas poderosas, acrobacias e técnicas de punho; e o Wing Chun, um estilo de combate rápido e eficiente, conhecido por sua economia de movimentos e técnicas precisas.
A transmissão oral e prática é fundamental na preservação desses estilos tradicionais. Por séculos, os mestres têm passado seus conhecimentos e técnicas para as gerações seguintes, garantindo a autenticidade e integridade dessas formas de arte marcial.
Estilos Modernos
Com o avanço da globalização e a introdução do wushu em competições e exibições, surgiram os estilos modernos do wushu. Esses estilos foram desenvolvidos para enfatizar a estética, acrobacias e coreografias impressionantes. Movimentos acrobáticos, giros no ar, saltos altos e sequências de movimentos dramáticos são características marcantes da modalidade.
Esses estilos modernos têm desempenhado um papel crucial na popularização global do wushu. Através de competições internacionais, apresentações em eventos e filmes de artes marciais, o estilo moderno tem cativado o público com suas exibições de habilidade física e beleza visual.
Técnicas e Movimentos do Wushu
Suas técnicas abrangem uma ampla gama de movimentos, desde socos e chutes até golpes de mão, agarramentos e saltos acrobáticos. Cada técnica é executada com precisão, fluidez e poder. Os praticantes dedicam-se à prática repetitiva e ao aprimoramento contínuo, a fim de aperfeiçoar suas habilidades.
A combinação de movimentos graciosos, rápidos e explosivos é uma das características distintivas do wushu. A harmonia entre a força e a suavidade, a flexibilidade e a rigidez é buscada em cada movimento executado.
Treinamento Físico
O treinamento de wushu abrange uma série de componentes físicos essenciais. A força é desenvolvida através de exercícios de resistência e treinamento com pesos, enquanto a flexibilidade é aprimorada por meio de alongamentos e movimentos amplos. A resistência é trabalhada com exercícios aeróbicos e de alta intensidade.
Além dos exercícios específicos para desenvolver habilidades necessárias, como saltos e giros, os praticantes também se dedicam a aprimorar sua postura, equilíbrio e coordenação. O treinamento físico é fundamental para o desempenho adequado das técnicas e para a prevenção de lesões.
Capacidades Físicas do Wushu
Força
Segundo Foss e Keteyian (2000), força é a tensão que um músculo ou um grupo muscular consegue exercer contra uma resistência em um esforço máximo muscular, sendo a maior energia que um músculo ou grupo muscular pode gerar, menciona Wilmore (2001).
De acordo com Roig (1990?), um atleta de wushu tem como necessidade, desenvolver um trabalho com pesos para aprimorar a força máxima, força explosiva e força de resistência.
Força Máxima
É compreendida como a maior força que o sistema neuromuscular pode oferecer por meio de uma contração máxima voluntária, menciona Weineck, (1999). O autor mencionado ainda afirma que existe uma força ainda maior que a força máxima, sendo denominada força absoluta. A força absoluta é determinada pela soma da força máxima e da força de reserva, que só se manifesta em condições de risco como: risco de vida.
A diferença entre as forças máxima e absoluta chama-se déficit de força, que tem uma variação entre 10% e 30%, de acordo com o nível de treinamento de cada pessoa. O déficit de força é mensurado através das diferenças de desempenho em força durante a contração isométrica, excêntrica e pela análise das forças isométricas máximas e eletro estimulação, sendo assim, quanto mais excêntrica a força, maior o déficit de força, mostrando o mau desempenho do atleta, afirma Weineck, (1999).
A força máxima pode ser dividida em dinâmica e estática. A força máxima dinâmica é a força que o sistema neuromuscular pode executar de forma voluntária em movimentos seqüenciados. A força máxima estática só se desenvolve se houver equilíbrio entre a carga e a capacidade de contração do músculo, assim, será sempre maior do que a força máxima dinâmica, cita Weineck, (1999).
O desenvolvimento da força máxima concêntrica e excêntrica faz com que a curto prazo aconteça um aumento da força, promovendo uma melhoria da coordenação intramuscular, e isoladamente, a unidade motora não apresentará melhorias, cita Weineck, (1999).
De acordo com Roig (1990?), o desenvolvimento da força máxima irá proporcionar ao atleta de wushu um maior recrutamento das fibras musculares, permitindo a execução dos movimentos com maior aplicação de força.
Força Explosiva
É a capacidade determinada pela liberação de grandes forças no menor tempo possível, afirma Barbanti (1994). Para Weineck, (1999), pode ser entendida por uma capacidade do sistema neuromuscular de movimentar o corpo ou parte dele, utilizando ou não objetos com uma velocidade máxima.
A força rápida pode se diferenciar entre os membros de uma mesma pessoa, um braço pode ter uma força rápida maior do que o outro. O sistema nervoso central controla a força rápida, sendo que alguns atletas possuem um programa mais rápido do que outros, e o treinamento de cada atleta influencia no seu desenvolvimento, menciona Weineck, (1999).
Os programas de processamento rápido se devem á condição de que impulsos rápidos são diretamente conduzidos ao músculo principal. O padrão de inervação é composto por uma fase de pré inervação, através de grande aumento da atividade principal, e também, através da ativação simultânea dos músculos principais que participam do movimento. A pré inervação promove uma melhor reação do fuso muscular, isto é, ocorre um aumento da elasticidade dos músculos, sendo assim, um forte aumento da atividade cria melhores condições para contrações rápidas, menciona Weineck (1999).
Os padrões de programas de processamento lento não oferecem um rápido controle do músculo principal, com a diminuição ou até mesmo ausência da fase de pré inervação, as atividades desenvolvidas apresentam platôs duradouros. Existe uma relação entre força máxima isométrica e velocidade de movimento, um aumento da força isométrica está relacionada ao aumento da velocidade do movimento, através da força isométrica, pode-se diferenciar se a força máxima influencia na força rápida, menciona o autor acima citado.
Um aumento de carga empregada promove um significativo aumento de força máxima para força rápida, uma flexão do cotovelo realizada com peso depende de 13% da capacidade da força máxima, enquanto a velocidade da flexão depende de 39%, cita Weineck (1999).
Segundo Weineck (1999), as fibras musculares do tipo ll, são as fibras de contração rápida, sendo que estas podem ser divididas em dois tipos: tipo llc e llb. A fibra do tipo llb tem um tempo de contração menor, e por este motivo, apresenta uma maior velocidade de contração, e também podem ser desenvolvidas a partir de um programa de treinamento.
A velocidade de contração das unidades motoras das fibras, o número de unidades motoras contraídas e a força de contração das fibras recrutadas influenciam no desenvolvimento da força explosiva. Por não depender de um rápido programa, a força explosiva passa a depender do nível de força máxima, afirma Weineck (1999).
Outros fatores que influenciam a força explosiva são a modalidade esportiva em questão e a metodologia de treinamento empregada, menciona Weineck, citando Duchateau 1992.
Segundo Roig (1990?), o desenvolvimento da força explosiva irá permitir que o atleta de wushu possa percorrer uma distância no menor tempo possível.
Força de Resistência
É a aptidão de um grupo muscular em realizar contrações musculares contra uma carga repetidas vezes, menciona Foss e Keteyian (2000).
A força de resistência é influenciada pela intensidade do estímulo, volume do estímulo e duração, sendo que estes estímulos resultam na mobilização energética utilizada. A capacidade de força de resistência deve promover uma adaptação da função oxidativa da fibras de contração rápida e lenta, proporcionando novos processamentos e formação de novas estruturas contráteis no músculo., cita Weineck (1999).
Durante a execução de alguns exercícios, se aumentarmos a carga de trabalho promoverá uma diminuição do número de repetições do mesmo. Levando em consideração que existe uma deficiência do suprimento sanguíneo arterial no músculo a partir de 20% da força máxima isométrica, a partir de 50% os vasos se fecham totalmente, de acordo com a força de contração desenvolvida, apresenta um metabolismo misto aeróbio e anaeróbio, sendo assim, deve-se aplicar um treinamento adequado à carga característica da modalidade esportiva treinada, cita Weineck (1999).
Segundo Weineck (1999), para desenvolver uma força de resistência, devemos levar em consideração alguns requisitos básicos, sendo eles:
- A força de resistência é uma capacidade importante no desenvolvimento de qualquer esporte de resistência, onde devemos nos atentar às delimitações e diferencias de cada modalidade, cita Weineck (1999).
- Um treinamento de força de resistência eficiente deve promover um desenvolvimento diferenciado das capacidades específicas de cada modalidade para se atingir um alto desempenho do início ao fm do percurso, cita Weineck (1999).
- Um treinamento eficaz deve ser interrompido e retomado durante o ano, levando em consideração a estratégia de treinamento adotada, cita Weineck (1999).
- O desenvolvimento das capacidades de força deverão ser devidamente documentadas durante a fase de treinamento, proporcionando uma análise dos efeitos do treinamento, afirma Weineck (1999).
Uma forma de resistência de força que é de grande importância para esportes como boxe, patinação artística no gelo, esgrima e jogos como futebol, vôlei, etc, é a resistência de força rápida. A resistência de força rápida, depende especialmente da velocidade de recuperação da musculatura participante e da capacidade de resistência aeróbia e anaeróbia local e geral, menciona Weineck (1999).
A força de resistência geral é a resistência á fadiga da periferia do corpo, onde apenas um sétimo da musculatura esquelética é empregada. A força de resistência local é a capacidade de resistência á fadiga da parte periférica do corpo onde menos de um sétimo dos músculos esqueléticos são requisitados, menciona Weineck (1999).
De acordo com Roig (1990), é muito importante o trabalho de força de resistência para os atletas de wushu, pois os mesmos poderão desenvolver esforços contínuos, mantendo um ritmo do início ao término do movimento.
Velocidade
Velocidade é a capacidade de um atleta desenvolver ações motoras em um percurso determinado e num menor tempo possível, menciona Zakharov e Gomes (2003).
Roig (1990?), afirma que os atletas de wushu deverão desenvolver dois tipos de velocidade dentro das suas periodizações de treinamento, sendo eles: velocidade de ação e velocidade de reação.
Zakharov e Gomes (2003), definem velocidade de ação como a capacidade física de um atleta em executar uma ação motora em um menor tempo possível, podendo a mesma ser realizada apenas uma única vez ou através de movimentos repetidos ou seqüenciados. Já a velocidade de reação refere-se à capacidade de reação a um estímulo em um menor tempo possível, menciona Weineck (1999).
A velocidade não pode ser definida como apenas uma capacidade de correr velozmente, mas, uma capacidade de coordenar, que é de extrema importância para a execução de movimentos acíclicos, como um salto ou um lançamento, e também para movimentos cíclicos como patinação, ciclismo, etc, afirma Weineck (1999).
Dantas (1998), afirma que além do fator genético, que tem uma grande influência no desenvolvimento da velocidade de movimento, devemos levar em consideração três fatores, sendo eles:
- Amplitude de movimento,
- Força do grupo muscular empregado,
- Eficiência do sistema neuromotor.
Quando um destes fatores supera os outros, ocorrerá uma alteração na capacidade física se expressando de maneira diferente de acordo com a modalidade. Ao preponderar a amplitude do movimento, fará com que a velocidade provoque deslocamento através da repetição de movimentos cíclicos de membros, como na natação. Se a força for predominante, ela poderá ser observada em esportes que exigem força explosiva como futebol, boxe, etc. Sendo o mais importante, o sistema nervoso se apresenta nas expressões da velocidade onde pode-se observar a força de reação, podendo ser observada nos movimentos da esgrima, nas defesas do karatê, menciona Dantas (1998).
Dantas (1998), afirma que a pré disposição genética para a velocidade deve ser inata, ou seja, a pessoa já nasce com ela, pois fatores como a eficiência do sistema motor, a velocidade de condução do motoneurônio e a existência de um grande número de fibras glicolíticas dependem deste fator, tornando difícil desenvolver a velocidade a quem não a possua.
No entanto, através da especificidade do treinamento pode-se aumentar a freqüência da descarga neural e também a adaptação das fibras glicolíticas, promovendo uma semelhança no comportamento das fibras com as rápidas, cita Dantas (1998).
Flexibilidade
Relacionando Weineck (1999) e Achour Jr. (1998), flexibilidade é a capacidade de um atleta de executar movimentos com grande amplitude em uma ou em várias articulações, sem causar lesões.
A flexibilidade é uma capacidade de grande importância para os atletas de wushu, pois seus movimentos exigem altos níveis de flexibilidade em suas execuções, cita Roig (1990?).
Segundo Weineck (1999), a flexibilidade pode ser classificada em:
a) Flexibilidade geral, é a flexibilidade em grande amplitude dos principais sistemas articulares (ombros, quadris e coluna vertebral). Este tipo de flexibilidade não tem parâmetro preciso, pois, depende do nível de desempenho do esportista, cita Weineck (1999).
b) Flexibilidade específica, está associada á determinadas articulações, cita Weineck (1999), ex: atletas de salto em altura devem ter boa flexibilidade na coluna vertebral.
c) Flexibilidade ativa, pode ser classificada como a maior amplitude atingida em uma articulação através da contração dos músculos agonistas, menciona Weineck (1999).
d) Flexibilidade passiva, é a maior amplitude de movimento conseguida em uma articulação com o auxílio de forças externas (parceiro ou aparelho), menciona Weineck (1999).
e) Flexibilidade estática, é a execução de um alongamento em um determinado músculo por um determinado período de tempo, cita Weineck. (1999).
Limites estruturais da flexibilidade
Segundo Foss e Keteyian (2000), os ossos, músculos, ligamentos, tendões e pele são estruturas que influenciam na flexibilidade, sendo que, os ligamentos e cartilagens geram a principal resistência à flexibilidade do movimento articular estando presentes em todas as articulações. As cápsulas articulares, os tecidos conjuntivos associados e os músculos são responsáveis pela maior parte da resistência à flexibilidade.
Fuso muscular
São receptores musculares localizados dentro do músculo e não só mantêm o tônus muscular como são responsáveis pela proteção do músculo de uma provável distensão, e por esse motivo, tem uma influência direta na capacidade do alongamento muscular, menciona Weineck (1999).
Quando ocorre uma distensão do músculo, a parte central do fuso também se distende, provocando a ativação do nervo sensorial (nervo anuloespiralado), que envia sinais ao sistema nervoso central, estes sinais irão ativar os neurônios motores alfa, que inervam as fibras musculares regulares contraindo o músculo. Este processo é denominado como reflexo de estiramento, cita Foss e Keteyian (2000).
Juntamente com o músculo, o fuso se encurta, interrompendo o fluxo de impulsos sensoriais relaxando o músculo, menciona Foss e Keteyian (2000).
Órgão tendinoso de Golgi
Órgãos tendinosos de Golgi são proprioceptores que estão encapsulados nas fibras tendinosas, sendo sensíveis ao estiramento. Os órgãos tendinosos de Golgi são menos sensíveis ao estiramento comparados aos fusos, para serem ativados é necessário um estiramento muito forte, sua principal forma de ativação é o estiramento exercido sobre os mesmos pela contração dos músculos onde os tendões estão localizados, menciona Foss e keteyian (2000). Quando ocorre o estiramento, uma informação sensorial é enviada ao sistema nervoso central, provocando um relaxamento do músculo contraído, ao contrário dos fusos, sua função é inibir os músculos onde estão localizados. Esta reação acaba sendo uma forma de proteção do músculo, pois quando ocorrem tentativas excessivas de elevar cargas extremas e que poderiam causar uma lesão na musculatura, os órgãos tendinosos de Golgi induzem o relaxamento do músculo, menciona Foss e Keteyian (2000).
A importância da flexibilidade no treinamento do wushu
Segundo Weineck (1999), a flexibilidade é um fator de extrema importância para uma boa execução de movimentos sob os aspectos qualitativos e quantitativos. Um atleta com um alto nível de flexibilidade tem o desempenho esportivo favorecido, e por este motivo, passa a ser um quesito muito importante no processo de treinamento. Um bom nível de flexibilidade possibilita que o atleta de wushu possa realizar um número máximo de movimentos em um menor espaço de tempo, cita Roig (1990?).
Alguns aspectos do movimento como a coordenação, dinâmica espacial e temporal, leveza e graciosidade, expressão estética e força nos movimentos, em grande parte se devem á um bom nível de flexibilidade, cita Weineck (1999).
Relacionando Roig (1990?) e Weineck (1999), a falta de flexibilidade pode prejudicar o desempenho técnico e coordenativo do atleta de wushu, e assim, o mesmo terá seu desenvolvimento estagnado.
Roig (1990?) menciona que a força explosiva e a velocidade são capacidades que estão presentes em várias modalidades do wushu. Weineck (1999) afirma que, músculos mais alongados podem executar movimentos com maior força e velocidade, aumentando também a tolerância á lesões.
Weineck (1999), menciona que um esportista otimiza o seu desempenho esportivo quando consegue manter um período de treinamento prolongado sem lesões, garantindo assim, melhores resultados no seu treinamento.
Wushu: Sistema Cardiovascular e Respiratório
Sistema Cardiovascular
Segundo Serrato (2004), as seqüências técnicas de wushu são compostas de 32 a 60 movimentos, sendo executadas de uma vez, sem intervalo, essas sequências chamadas de Tsu He (seqüências básicas de wushu) e Tao Lu (seqüências avançadas de wushu), promovem um desgaste físico muito grande.
De acordo com a pesquisa realizada pela Universidade de Educação Física de Beijing, depois de participar de um campeonato de wushu, os atletas de chang chuen (punho longo), com idade entre 18 e 25 anos, apresentam uma frequência cardíaca de 173 bpm, com pressão sistólica próxima a 200 mmhg, porém, os atletas que participaram da modalidade rotinas com armas, apresentaram uma freqüência cardíaca de 170 bpm, com pressão sistólica próxima a 186 mmhg, menciona Serrato (2004).
Em 1976 realizaram uma nova pesquisa, utilizando um aparelho de telemedição, alguns atletas realizaram exercícios de mãos livres e outros com armas, sendo que, os atletas que realizaram as rotinas de wushu de mãos livres apresentaram uma freqüência cardíaca de aproximadamente 216 bpm, já os atletas com armas, apresentaram uma freqüência cardíaca de no máximo 192 bpm. Após 5 minutos do término da realização dos exercícios, os atletas apresentaram uma freqüência cardíaca normal, menciona Serrato (2004).
Segundo esta pesquisa, os atletas de wushu devem treinar as rotinas de 15 a 20 vezes por dia, tanto as de mãos livres como as de armas, sem contar os exercícios físicos específicos, portanto, estes movimentos exercem uma grande influência sobre o sistema cardiovascular, sendo um estimulante para o corpo e assim, promovendo um aumento da saúde, afirma Serrato (2004).
No mesmo ano, a Universidade de Educação Física de Beijing realizou uma segunda pesquisa, comparando as funções orgânicas dos alunos que praticaram wushu e os que não praticaram. A comparação se deu sobre as funções orgânicas do sistema cardiovascular, através da mensuração da freqüência cardíaca e da pressão arterial em repouso e depois de agachar e levantar por 30 segundos, confirmando que a prática do wushu influencia positivamente o sistema cardiovascular, cita Serrato (2004).
Através da análise, os resultados obtidos entre os alunos que praticavam wushu e os que não praticavam, chegaram à conclusão que a frequência cardíaca e pressão sistólica dos alunos praticantes de wushu eram mais baixas do que os demais, tanto em repouso quanto em exercício, e também, a recuperação da pressão arterial ao estado normal é mais rápida no primeiro grupo, menciona Serrato (2004).
O autor acima citado, ainda diz que isto significa que o coração que se contrae poucas vezes durante determinado tempo, a circulação pode garantir a necessidade do movimento e da função orgânica do corpo, por esta razão seu coração pode estar mais tempo em repouso. A rápida recuperação da freqüência cardíaca e da pressão arterial após o exercício, demonstra que o sistema cardiovascular pode receber cargas maiores de trabalho, assim, pode-se demonstrar que os exercícios de wushu podem melhorar o funcionamento do sistema cardiovascular.
Sistema Respiratório
Para se praticar wushu é necessário um bom sistema respiratório, como exemplo, podemos dizer que toda vez que um atleta de wushu avança para socar um adversário, ele necessita da respiração para ajudar na emissão da força, cita Serrato (2004).
Uma pesquisa realizada em 1963 por Li Miao Qin, ex aluno da Universidade de Educação Física de Beijing demonstrou que após a realização de uma rotina de chang chuen (Punho Longo), a freqüência respiratória estava entre 31 e 34 vezes por minuto e o volume de ar entre 20 a 29 litros. A rotina de chang chuen, possui movimentos lentos, rápidos e fortes, promovendo um grande desgaste físico a quem executa, por este motivo, é necessário uma grande retenção de oxigênio que pode chegar de 70% a 80%, sendo necessários 8 a 9 minutos para recuperar-se totalmente, cita Serrato (2004).
Em 1976 foi realizada uma pesquisa para avaliar a diferença da capacidade respiratória entre os alunos wushu e os alunos comuns da Universidade de Educação Física de Beijing. O resultado mostrou que o volume de tórax dos alunos de wushu aumentou 2,12 cm, enquanto os demais apresentaram uma diferença de 1,38 cm, cita Serrato (2004).
Um grande volume de tórax demonstra que a pessoa pode expirar mais ar residual e inspirar mais ar fresco, por este resultado, pode-se dizer que a prática do wushu pode melhorar muito o funcionamento do sistema respiratório, menciona (2004).
Filosofia e Princípios do Wushu
A filosofia subjacente ao wushu envolve princípios de equilíbrio Yin-Yang, harmonia e busca da excelência pessoal. Sua prática vai além do aspecto físico, abrangendo o desenvolvimento da mente e do espírito. Valores como respeito, humildade, disciplina e perseverança são enfatizados.
Através da prática do wushu, os praticantes buscam aprimorar não apenas suas habilidades marciais, mas também seu caráter e autodisciplina. A conexão entre corpo e mente é essencial para alcançar a excelência.
As competições de são avaliadas com base em critérios específicos, como precisão dos movimentos, energia, postura e expressividade. Os juízes atribuem pontuações de acordo com a execução das técnicas e a qualidade geral da performance.
Mestres e Personalidades
Ao longo da história do wushu, vários mestres ganharam destaque por sua maestria e contribuições para a arte marcial. Mestres como Hai Yu, Ip Man, Jianqiang Hu, Huo Yuan Jia, Jet Li, Jackie Chan, Bruce Lee, Donnie Yen, entre outros… são venerados por suas habilidades e influência na formação do wushu. Suas histórias e ensinamentos são passados de geração em geração, deixando um legado duradouro.
Além dos mestres históricos, também existem personalidades contemporâneas que têm desempenhado um papel importante na popularização do wushu. Através de suas realizações em competições, ensinamentos e esforços de divulgação, essas personalidades ajudaram a levar a arte para um público mais amplo.
Competições de Wushu
As competições têm diferentes categorias, como as rotinas de mão livre e rotinas com armas ( chamadas de taolu) e combate (sanda). Durante as apresentações de taolu, os praticantes executam uma sequência de movimentos pré-determinados, demonstrando sua técnica, fluidez e expressividade. Já o combate, por outro lado, envolve confrontos diretos entre os competidores, aplicando técnicas de luta aprendidas durante o treinamento.
Princípios de Saúde e Bem-Estar
Sua prática promove princípios de saúde e bem-estar, buscando equilíbrio físico, mental e espiritual. A prática do wushu está acessível a pessoas de diferentes faixas etárias e níveis de condicionamento físico, sendo adaptável às necessidades individuais. E seus benefícios podem ser aproveitados por crianças, adultos e idosos.
Além disso, o wushu pode ser integrado a outras práticas de exercícios e terapias complementares, como meditação, yoga e tai chi. A combinação dessas disciplinas pode fornecer uma abordagem holística para promover a saúde e o bem-estar.
História da Federação Paulista de Kung Fu
Em 1986 os principais expoentes do Wushu no Estado de São Paulo passaram a se reunir com o objetivo de fundar o que seria a primeira Federação de Wushu do Brasil. Após dois anos, em 1989 foi fundada a FPKF.
De acordo com Marrera, os primeiros presidentes da FPKF foram:
Entre os fundadores da Federação Paulista de Kung fu , estavam os mestres pioneiros que introduziram o kung fu no Brasil nos anos 60. O primeiro presidente da FPKF foi: Dr. Enio Cuono (gestão 1989 a 1994). O segundo presidente foi: Mestre Léo Imamura (gestão 1994 a 1998). O terceiro presidente foi: (reeleito) Mestre Léo Imamura (1998 a 2001). (MARRERA, 2003, p. ?).
A FPKF à partir da sua fundação vêm organizando cursos, apresentações e campeonatos estaduais e internacionais, tornando-se a principal entidade em nosso país, tendo hoje a maior concentração de atletas do país, levando o Brasil a se tornar uma das maiores potências das artes marciais chinesas tradicionais e modernas e desportivas do mundo.
Benefícios do Wushu
A prática do Wushu oferece inúmeros benefícios físicos e mentais:
- Físicos: Melhora da força muscular, flexibilidade, coordenação motora e resistência cardiovascular.
- Mentais: Desenvolvimento da concentração, disciplina e equilíbrio emocional.
- Saúde geral: Estudos mostram que o Wushu pode ajudar na redução do estresse, melhora da postura corporal e prevenção de doenças crônicas.
Além disso, o Wushu promove valores como respeito mútuo, autocontrole e perseverança. Por isso, ele é amplamente recomendado tanto para crianças quanto para adultos.
O Wushu no Mundo Moderno
No cenário global atual, o Wushu ganhou destaque como esporte competitivo reconhecido pela Federação Internacional de Wushu (IWUF). Desde sua inclusão nos Jogos Asiáticos em 1990 até os Campeonatos Mundiais realizados bienalmente em diferentes países, o esporte tem atraído milhões de espectadores.
A IWUF desempenha um papel crucial na promoção do Wushu internacionalmente. Em 1999, a organização foi oficialmente reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), marcando um passo importante para sua inclusão futura nos Jogos Olímpicos. Além disso, demonstrações culturais em eventos globais têm ajudado a disseminar a prática como uma forma de arte marcial acessível a todos.
Wushu como Arte Performática
Além do aspecto esportivo, o Wushu é amplamente valorizado como uma forma de arte performática. As rotinas combinam movimentos graciosos com música tradicional chinesa para criar apresentações visualmente impressionantes. Essa dimensão artística reflete a conexão intrínseca entre as artes marciais chinesas e outras formas culturais tradicionais.
As apresentações teatrais frequentemente destacam histórias épicas da mitologia chinesa ou celebram heróis históricos. Isso torna o Wushu não apenas uma prática física, mas também uma experiência cultural rica que conecta os espectadores com a história da China.
Estrutura Competitiva
Rotinas Compulsórias: atualmente existem 10 rotinas oficiais divididas em três categorias:
- Mãos Livres:
- Chang Chuen
- Nan Chuen
- Tai Chi Chuan
- Armas Curtas:
- Dao Shu
- Jian Shu
- Nan Dao
- Tai Chi Jian
- Armas Longas:
- Quian Shu
- Gun Shu
- Nan Gun
Conclusão
O Wushu é muito mais do que uma arte marcial; ele é uma ponte entre tradição e modernidade que continua a inspirar milhões ao redor do mundo. Sua rica história cultural, diversidade estilística e benefícios para a saúde fazem dele uma prática valiosa tanto para atletas quanto para apreciadores da cultura chinesa.
Seja você um iniciante curioso ou um praticante experiente, explorar o universo do Wushu pode ser uma jornada transformadora. Experimente essa arte marcial milenar como forma de exercício físico ou apreciação cultural — você certamente descobrirá algo extraordinário!
Referências
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Referência em performance humana, Alexandre Bento soma três décadas como Educador Físico e Professor Faixa Preta em Kung Fu. Sua metodologia única é respaldada por mais de 10 títulos nacionais como mentor técnico.